Macedon, NY, USA
Eu divirto-me com os simbolismos das coisas que me acontecem na vida. 2018 começou comigo agarrada a uma sanita a vomitar sem parar, graças a uma paragem de digestão. Podia ser sido de bezana ou de aditivos, mas vai daí que este ano foi mesmo comida mal mastigada que me levou a passar o primeiro dia do ano inteiro numa cama de hospital. Fazia lá eu ideia que este seria o ano em que me dedicaria às limpezas.
Hoje fazem quatro meses que deixei de tomar antidepressivos. A medicação estava doseada para me ajudar no processo de quem lida com ansiedade crónica. Nunca cheguei a ter uma depressão mas andei por lá perto, uma vez que estas são condições que por norma se dão bem, lado a lado. Tomava medicação relacionada com a ansiedade desde os 17 anos.
Não é por acaso que não me têm lido. Pela primeira vez em muitos anos, decidi colocar-me em primeiro lugar e tomar conta de mim. Isso também me afetou a escrita.
Esta coisa de nos dizerem que temos de nos amar, que somos os nossos melhores amigos e blabláblá fica muito bem em posts e ilustrações bonitas, mas dar de caras com quem somos sem tretas e falinhas mansas, enfrentarmos os nossos demónios, as nossas fraquezas e estarmos disponíveis para cuidar delas a sério, isso é de uma coragem que eu, que achava conhecer-me bem, desconhecia por completo.
Os antidepressivos que o médico me receitou há anos, permitiram-me abafar os ataques de pânico, as tremuras e as insónias, mas nunca por um momento me ajudaram a perceber de onde vinha afinal todo esse arsenal de mau estar.
Este ano vivi ao máximo este processo de limpeza de relações, ambientes e padrões de pensamentos tóxicos. Encarei traumas, mudei hábitos e reconectei-me com partes de mim que já nem sabia existirem.
Crescer é difícil para crl, é uma constante derrapagem e desengane-se quem achar que vai ser uma volta de carrocel com unicórnios e algodão doce.
É um puto de um processo inacreditável de mutações e de aprendizagens contínuas, sim. É uma maré de aflições, de contagem de tostões e de planos adiados, sim. É vermos os nossos queridos morrerem, percebermos a nossa impotência e aceitar que não vai ser tudo como tínhamos imaginado. Pode tudo correr absurdamente mal,sim.
Mas caramba. E daí?
Estar vivo também é tão mais do que tudo isso.
Um pensamento em “Tão mais do que isso”