Resende, 7 de junho de 2019
Dear Duki,
É sexta-feira e a contagem decrescente para o regresso da Xaninha chega finalmente ao fim.
O tempo pára quando dou por mim aqui sentada na cozinha a ouvi-la falar sobre mais uma semana de aventuras no trabalho. A minha irmã é de longe a pessoa mais engraçada que eu conheço.
No outro dia encostada à porta da lavandaria pensativa, olhava ela para o horizonte. De repente mexe-se, vira-se num instante para nós e como quem se lembra de algo importante pergunta: “dois anos de trabalho… dá quanto de reforma?”. Rio-me à gargalhada e ela fica com cara de parva a olhar para mim “vais-te rir de tudo o que eu digo?”. Mas o que é que eu posso fazer? Ela tem saídas geniais, umas atrás das outras e nem se apercebe porque está demasiado ocupada a ser ela própria, sem rodeios.
Eu e a minha irmã nunca chegámos a ter quartos separados, a casa tem três quartos mas nós decidimos acampar para sempre no mesmo. Partilhamos a mesma cama desde que ela veio ao mundo e esta, em específico, já conta com vinte e dois anos de amor eterno. Aquela cama é-nos sagrada e há tratado de que nos deitemos juntas nela até que os dias acabem. “E se um dia tivermos maridos?”, perguntei durante o acordo “ dormem juntos no quarto dos brinquedos, ou no sofá”, pareceu-me viável pelo que concordei. Não selamos a coisa com sangue ou saliva nas mãos porque em acordos com a minha irmã bastam-se as palavras enquanto a olhamos nos olhos.
Os meus amigos já sabem que quando estou com a minha irmã, sou exclusivamente dela. Como não passamos tempo suficiente juntas, aqui todos os pequenos momentos são aproveitados como quem bebe a sopa diretamente do prato, não vá escapar alguma gota à colher. Vamos vestir o pijama juntas, enquanto uma toma banho a outra escolha a música e dança em frente ao espelho até que chegue a vez de trocar.
Tentei adiantar ao máximo o trabalho que tenho para fazer para poder aproveitar o fim-de-semana com ela, há um jantar fora prometido, filmes para ver e muita conversa para pôr em dia. Sendo assim parece-me prudente escrever-te como deve ser lá para segunda-feira. Que te parece?
Já tens planos para este fim-de-semana?
Olha, a miúda chegou. Tenho de ir.
Um beijo enorme.
Gosto imenso de ti.
B.

Cartas para Vadios é uma série de cartas enviadas ao meu incrível amigo Duki, no Kosovo.