1 de Julho 2016, Lisboa
Ontem conheci o Moisés. Estava sentado nas escadas do costume, à espera que o tempo passe, enquanto se lembra da família que está longe, pelo mundo. É tudo muito difícil, disse-me várias vezes, mas ele queria conhecer esse tal de mundo, queria ser jornalista. Estudou enquanto havia dinheiro, mas o dinheiro não era coisa fácil de haver.
Ontem perdi-me com os desabafos de quem não consegue fazer amigos em Lisboa, é tudo muito difícil. Tudo muito difícil, Ana. Ao final da noite, um cão mordeu-lhe no braço, ficaram três pontinhos elevados na pele, dará cicatriz. Ao que parece, o cão havia sido vítima de maus tratos e abandonado por um homem de pele negra, reagindo à defesa a todos os que encontra parecidos com ele. O Moisés ficou tão triste, só lhe queria dar uma meiguice, acabou mordido.
-Sabes o que é isto Ana?
– Diz-me Moisés.
– Não fiz mal, tu viste. Tentei fazer algo bom, acabei mordido. Sabes o que é isto, Ana? Isto é só a vida.